Ficç?o também é Verdade

Essas s?o experiências liter?rias, comprometimento com idéias verdadeiras, nem sempre originais, que saltam da cabeça e se transformam em palavras.

 
 

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quarta-feira, setembro 29, 2004
 
Candy Candy Candy

Tinham se conhecido há pouco tempo, mas o suficiente para Ivan entender que ela gostou dele
de cara, como num desses clichês românticos de paixão à primeira vista, nos quais ele
secretamente acreditava. Percebeu isso naqueles olhares que sorviam cada uma de suas
palavras, no abraço febril da despedida e no beijo que mergulhou em sua face.

Já para ele, ela não disse absolutamente nada.

Naquele dia, ela sentou diante de seus olhos negros, úmidos e pasmos, admirou-os mais uma
vez e pôs todas as cartas na mesa dizendo o que sentia. Ele só podia agradecer - e o fez -
mas além disso não sentia mais nada. Dizer qualquer coisa seria redundante, por mais que
fosse verdade. A menina era realmente ótima, mas só isso. Não o suficiente para
levar para cama ou sair de mãos dadas por aí.

Ela ficou visivelmente desapontada, dava para notar na sua franja caída nos olhos, no
saleiro nervoso em suas mãos, na voz que virou um fio. Até que ela respirou fundo - ia
saltar num abismo - e enfiou dois dedos no bolso do lado esquerdo do peito e tirou um
pequeno objeto cor-de-rosa. Pediu que ele abrisse a mão e o colocou sobre ela.

- O que é isso?
- Meu coração. Come.

Parecia uma bala, realmente tinha a forma de um coração. Ivan segurou, tinha a textura
estranha de uma borracha macia e estava morno. Um tanto conduzido pelo instinto, aproximou o coraçãozinho maciço do próprio rosto e cheirou, sentindo um aroma doce e quente. Sem pensar
muito - nem saber o motivo - enfiou-o na boca. Mordeu. A menina em sua frente fez uma
expressão que ele não soube se era de prazer ou dor, porque tem horas que o limite entre
essas coisas parece bem tênue. Ele começou a sentir um gosto fortíssimo, ainda doce, mas um
tanto amargo e que pareceu impregnar seus sentidos inteiros. Ivan fechou os olhos e começou
a sentir cuidadosamente a textura mole e quente do coração em sua língua. Era bom e ele
sentia seu corpo se arrepiar.

Quando abriu os olhos, percebeu que estava com as carnes brancas da bunda daquela menina
preenchendo suas mãos, o rosto enterrado entre suas pernas. Ela fazia um barulho dengoso e
batia com os punhos vigorosamente sobre o colchão. De onde estava, ele podia ver seu ventre
oscilando rapidamente com a respiração. Ivan gostou do que viu, e ouviu e sentiu com as
pontas dos seus dedos e língua. Um raio percorreu sua espinha e eletrizou a raiz de seus
cabelos. Num estalo, sentiu sua glande latejar e apertou com mais força as nádegas da
menina. Com apenas um impulso, moveu-se sobre ela e escorregou por entre suas pernas. Ouviu que ela calou-se num soluço. Foram necessários somente uns dois ou três movimentos para que
Ivan se sentisse derreter.

Ivan despertou com o suor que escorreu por suas têmporas. Na boca, um gosto de sangue
ligeiramente adocicado. Em sua frente, Lilith se desfazia. Toda aquela manobra resultou em
nada. O amor, ele continuava não sentindo. Pegou em sua mão agradecendo mais uma vez.
Envergonhada, ela abaixou o rosto fazendo com que seus cabelos novamente cobrissem seus
olhos, agora escondendo também um par de lágrimas que desciam queimando. Sem mais, ela se
levantou e foi embora. Logo mais ele a esqueceria completamente. Ela, no entanto, carregava
mais uma cicatriz de mordida dentro do peito.